Noémia de Sousa é também chamada de “mãe da poesia moçambicana”. Sua obra poética data de um curto período de três anos, 1948 a 1951, e foi reunida em livro somente em 2001, depois de um longo e exaustivo processo de convencimento. A imagem de Noémia de Sousa cresceu à custa de publicações independentes, fotocópias, editoriais e antologias que corriam de mão em mão, potencializadas pela “poiesis do grito” que, anos depois, viria a integrar o currículo disciplinar de escolas de Moçambique, toda a África lusófona e também de Portugal.
Nos 48 poemas reunidos em “Sangue Negro” encontram-se múltiplas Noémias que, para além de uma apreciação individual e multifacetada do dever poético tão comum, preferiu se dividir para escrever as ambições e dores de um povo tão maculado pela colonização portuguesa e suas consequências assombrosas. Ainda assim, Noémia, como oráculo, também delineava palavras de liberdade, de esperança e de ressarcimento do tempo de exploração imposto a sua geração e a todas as gerações antes dela. Presa política, exilada e ressentida por não ter sido chamada para a grande festa da independência de Moçambique, Noémia pôs em versos as minúcias dos sentimentos e necessidades coletivos como poucos.
Publicado pela primeira vez em 2001 e reeditado em 2011, “Sangue Negro” ganhou sua primeira edição brasileira em 2016 pelas mãos certeiras da editora Kapulana. O livro reúne textos de apoio das edições anteriores, depoimentos de pessoas ligadas a poeta e ilustrações de Mariana Fujisawa que ajudam a entender o porquê Noémia de Sousa tornou-se tão maior que sua poesia incendiária.