No terceiro episódio da série Na Fissura, discutimos a Parte IV do livro, “Templo”. A parte funciona como um divisor de águas para Hari. Aqui, o autor, que julga ter contextualizado a guerra às drogas historicamente e ter esclarecido quem são os principais atingidos pelas medidas ostensivas e punitivas da proibição legal e da criminalização do usuário, foca e explicita o ponto que defende como causa principal da dependência em drogas e do vício.
Usando como base a experiência do Rat Park, do pesquisador Bruce Alexander – que teve seus recursos cortados logo que apontados os primeiros resultados que desafiavam a convenção geral da “dependência química” –, o jornalista defende que a dependência é causada, majoritariamente, por profundos traumas aliados a um modo de vida solitário, culminando na substituição dos afetos pelo consumo exacerbado. Um círculo vicioso cada vez mais comum.
Apoiado no contrassenso e na determinação de desafiar o sistema tal como é, Johann Hari busca na ciência a afirmação inequívoca para sustentar que usuários de drogas, em maior ou menor grau, precisam receber cuidados de saúde e precisam, como cidadãos, estar integrados como parte ativa da sociedade. Porém, ao bancar tal posição, se excede e confunde premissas básicas da ciência e da própria linha de raciocínio que construiu até aqui.